quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O auge



Quando ficamos grávidas, surge uma enxurrada de incertezas, um medinho longínquo de nosso bebê não nascer perfeito. Mas daí vem os exames e está tudo bem. 

Enxoval, escolha do nome, padrinhos, e aquelas coisas que decidimos que não, de jeito nenhum, vamos fazer. Pensamos se voltaremos logo ao trabalho ou se vamos dedicar mais tempo a esse anjo tão esperado.

Quis muito fazer parto normal. Num hospital público isso não é problema. Parto humanizado, convívio com outras mães  e seus recém nascidos, o que estimula a amamentação e trocas de experiências de quem só passa  por um parto na hora do parto sabe o que é.

Meu parto foi bem difícil. Nove horas e meia de trabalho. Dilatação ok.  Contrações ok.  Pressão alta sendo monitorada. O futuro papai presente. 

De repente o Léo ergueu a cabeça bem na hora de sair e, para meu desespero, não passava. Avisaram que iriam usar fórceps para tentar endireitá-lo, mas não funcionou. Um pouco mais disso e daquilo, até que o médico me diz:  "Para não machucá-lo vamos ter que fazer uma cesárea de emergência".

Algumas horas antes, 3 alunas do 5o. ano de medicina entraram na sala de pré-parto comigo, me fizeram massagem, me acalmaram, umas lindas. Estavam comigo na sala de parto na hora da anestesia, onde me deu um barato e me emocionei com fato delas serem tão jovens e serem filhas amadas de alguém, e ainda fazerem medicina na USP! Minha sinceridade foi colossal, pedi que quando chegassem  em casa dessem um abraço nas mães que deviam estar muito orgulhosas delas. Afinal elas já foram bebês amados e esperados tanto quanto o meu, e estavam ali, ao meu lado, passado na FUVEST para medicina. Quem não quer um filho assim?

Mas a noticia da cesárea veio, junto com mais anestésicos, e a chapação acabou. Elas foram retiradas da sala. E como no filme MATRIX o cenário mudou. Luzes se acenderam, uma mesa de instrumentos instantaneamente foi montada. E o Léo nasceu. Pude ouvir o médico dizer "chora bebê". E o Léo chorou. Mas não o trouxeram pra mim. Ao invés disso foi levado para uma mesa cheia de outros médicos para uma avaliação pós-parto. 

Eu me sentia crucificada. Braços abertos. Um para soro e outro para o controle da pressão. Eu queria vê-lo, tocá-lo, senti-lo fora de mim pela primeira vez.

Quando finalmente o trouxeram, não foi nada daquela cena de filmes ou novelas, de dar o bebê para mãe. Levaram para o pai que estava sentado logo atrás de mim. Ele o segurou primeiro. Mas antes veio um médico, todo cauteloso e pediu para a gente não se assustar com a aparência dele, pois  havia ficado com hematomas da tentativa do parto normal e que aquilo haveria de sumir em algumas semanas.

Quando vi o Léo no colo do pai, meu olhar estava de ponta cabeça. Haviam colocado uma touca, e ele estava com uma cor tão intensa que parecia o Piccolo do Dragon Ball Z.

Mas o mais importante: peso ideal e APGA 10 10 10. Estava tudo bem! Um pouco icterícia. Mas já havíamos passado esse susto com minha sobrinha e sabia que tudo ficaria bem. Agora era distribuir os CDs onde gravei músicas que simbolizavam nossa expectativa por sua chegada. Demos aos médicos, alunas, enfermeiras, residentes, todos que com muito carinho nos atenderam no Hospital Universitário.

O amor já estava aí antes, e todos vocês que são (ou sonham em serem) pais sabem de toda a história (amamentar, não dormir, não isso, não aquilo, tudo com muito, muito, muito amor, pois não há maior e melhor abdicação que a maternidade). Todos nós crescemos com essas mesmas histórias.

Mal sabia eu que após 1 ano e sete meses minha história deixaria de ter o roteiro conhecido.


(Continua...)




3 comentários:

  1. Já chorei com a sala de parto e as meninas residentes...estarei preparada com lenços na parte 2...

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  2. Lindo Amanda me fez reviver um pouquinho do meu parto prematuro da minha filha!! Que nasceu com apenas 6 meses de gestação e era desenganada por quase todos menos por mim e pelo Márcio e que hj é uma menina linda de 8 anos e uma das melhores alunas da escola e com uma saúde de ferro!!

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