segunda-feira, 27 de junho de 2016

Observatório Livre de novo visual



Perceberam que o blog Observatório Livre está de visual novo?

Mudei o plano de fundo para verde claro e as letras ficaram escuras, pois assim fica mais nítido, de modo que mais pessoas consigam ler. Recebi esse pedido de uma leitora muito querida para que fizesse tal modificação, e também me deparei com alguns amigos que tem glaucoma, e outros que possuem deficiências visuais diversas.

Lembrei de um ex-aluno, que estava na quinta série, e que usava óculos com lentes muito grossas. O menino era muito peralta, e vivia com os óculos quebrados e, até que os óculos fossem arrumados, ficava com os olhos apertados tentando enxergar.

Como era uma criança carente, uma vez  pedi para que sua mãe me desse a receita para que fizesse um par de óculos novos para ele. Quando cheguei na ótica que costumo fazer meus óculos, tive uma surpresa. O senhor que me atendeu disse que teria que trazer o garoto, pois precisava tirar medidas, que aquela lente era muito forte e a criança era praticamente não enxergava, mesmo quando usava as lentes ainda tinha dificuldades, principalmente para ler.

O garoto estava na quinta-série, mas já havia repetido as séries iniciais por ter demorado para se alfabetizar. Também pudera, com aquela dificuldade toda para enxergar (além de questões socioeconômicas que a família enfrentava).

Um conhecido da Paróquia local tratou de levar a criança e fez uma armação de óculos mais reforçada. Numa reunião pedagógica lancei a ideia de que os trabalhos daquele aluno deveriam ser impressos com letras maiores. 

Lembro-me quando ele pegou a avaliação de Geografia, matéria que eu lecionava, ficou olhando, admirado para aquelas letras grandes e me perguntou: "Essa prova é para mim?" Respondi que sim. Ele abriu um sorriso maroto e se concentrou em fazer a prova toda expressando alegria.

Isso já faz alguns anos. Depois mudei de escola. Mas, antes disso, coleciono algumas histórias com esse aluno e sua irmã, que também foi minha aluna. Infelizmente, não sei nada deles hoje. Espero que estejam bem, que tenham superado as adversidades daquela época. Guardo-os no coração.


Somos muitos, somos diferentes e temos que respeitar nossas diferenças para que delas não surjam as desigualdades e sim respeito e igualdade.

sábado, 18 de junho de 2016

Hoje cinzas, mas sempre Fênix




Você pode se perguntar por que o nome da página do facebook chama Autismo e Maternidade Fênix.

Porque ser mãe de uma criança especial é perceber situações que muitas vezes nossos filhos não percebem, e determinadas situações nos reduzem a cinzas, e temos que de alguma forma juntar essas cinzas e nos erguer mais fortes para lutar para que essas situações não tornem a ocorrer. Temos que escolher entre calar e falar. No meu caso, escolhi escrever.

Esse foi um mês particularmente difícil de enfrentar. Passamos por uma situação com uma pediatra que arranjou um jeito de nos dizer que não queria ver o meu filho novamente. Passamos por outra situação em que um projeto social, que rende lucro a uma empresa, nos excluísse por conta de números que, para eles, não foram suficientes. E hoje, ao tentar colocar o Léo na quadrilha na festa junina de sua escola, ao tentar fazer a professora e uma criança segurar a mão dele para ver se ele ficava junto das crianças durante a dança, fomos ignorados. Tive que sair abaixada para não atrapalhar a filmagem das outras mães que tentavam um lugar ao sol para filmarem seus filhos, enquanto o Léo ficou perambulando pela quadra sem saber o que fazer. Em um instante ele viu as crianças se aglomerarem numa roda da dança, se aproximou, mas como não conseguiu entrar novamente, foi procurar uma saída da quadra. Passou por debaixo da corda que delimitava o espaço da dança e passou por entre as pernas das pessoas que deram espaço para ele, mas não nos deixaram passar com medo de perder o lugar.

Neste momento me deu um frio na barriga, pois poderia perder o Léo de vista no meio das pessoas que estavam alheias a nossa situação. Por sorte o papai estava melhor posicionado que eu e atento, e conseguiu pegar o Léo.

Fomos embora na hora. Mas não antes de manifestar minha indignação com o coordenador da escola, que ficou sem reação, pois não esperava minha abordagem.

Saí com um nó na garganta. Um choro preso nos olhos. Fomos para a praça brincar. Fomos para um lugar seguro, onde o Léo pudesse se divertir. Pude me refazer e seguir a programação do nosso fim de semana.

Sabe quando você vai ao banco e por alguma questão burocrática ou técnica não consegue pegar seu dinheiro? Sabe quando isso acontece, e você precisa do dinheiro, mas os funcionários do banco te tratam como se estivesse pedindo uma esmola? Como se aquele dinheiro que está no banco não fosse seu, mas do banco?

Às vezes essa sensação me vem também quando penso na Inclusão Escolar, na Inclusão Social. Parece que estamos pedindo esmolas, e não que isso é um direito.

Sei que o Léo não iria dançar, mas poderia estar da forma dele com o grupo de crianças que convive. Mas parece que no espetáculo junino não cabia a gente.

E é assim que nós mães nos retiramos junto dos nossos filhos dos espaços de convivência social.
É por situações assim que deixamos de ir ao cinema, festas juninas, médicos e tantos outros lugares.

Hoje eu cheguei a pensar, “não vou na festa junina ano que vem”, assim como não vou voltar naquela pediatra. Mas é assim que essas pessoas nos excluem, e o que é pior, nos jogam a responsabilidade de nos isolarmos, afinal somos nós que não levamos nossos filhos aos lugares, e não eles que nos expulsaram. Isso é injusto!

Certa ocasião um colega me falou: “Eu acho que você se preocupa muito com a opinião dos outros com relação ao Léo. Não dá para modificar as pessoas, deixa elas para lá! Não adianta ficar falando!” Não contra argumentei como eu queria em nome da PAZ. Às vezes, em nome da PAZ a gente engole nossos argumentos.

Nós, mães Fênix, não podemos deixar tudo para lá. E não podemos nos ausentar da sociedade e viver uma vida de reclusão. É claro que vamos evitar algumas pessoas ou lugares se entendermos que isso vai ser demais para nossos filhos, mas não podemos deixar que a opinião dos outros nos vença.

Nós, mães Fênix, não podemos nos retirar de nossas lutas, pois essa é a nossa vida, esses são nossos filhos, e não estamos pedindo esmolas para existir, para estarmos onde quisermos. Não devemos nos esconder em casa, nossos filhos PODEM estar onde quiser! Nós PODEMOS!

E se eu achar que devemos estar em algum lugar, pois temos vida e queremos ser felizes, e o restante dos envolvidos achar que não pode, tenham certeza que EU não vou me retirar.
 Eu não vou deixar de falar. Podem não querer ouvir, achar ruim, me chamar de louca, de chata, mas não vou me recolher, não em nome dessa PAZ disfarçada de EXCLUSÃO, de achar que não pode existir espaço para nós.

A PAZ é para quando tudo está bem. Caso contrário, depois das cinzas eu sou FÊNIX, e não vou desistir das nossas lutas.

Nós existimos. No Brasil estima-se que somos 2 milhões. E estamos aqui!



Não sei se o Léo um dia vai dançar quadrilha, não sei como a próxima pediatra vai nos atender, não sei de muitas coisas. O que eu sei? Sei das muitas coisas incríveis que me filho já faz e que não fazia. E, como diz uma das mães que lançam voos de Fênix, e que é uma das que mais me inspiram, Anita Brito: “Tudo é 100% possível se você tentar 100%”.


Portanto, hoje eu vou dormir em paz. Mas a luta continua.